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sábado, 28 de junho de 2008

Um ano depois

Ontem fez um ano que 21 pessoas foram mortas no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Na verdade foram 21 pessoas nesse dia, porque se for contar desde o início da ocupação na região, dia 2 de maio de 2007, esse número sobe para cerca de 50 mortos e mais de 80 feridos.

Este extermínio teve o apoio estatal que tem política de segurança pública direcionada pela criminalização da pobreza. Onde favelados e pretos, são potenciais criminosos e devem ser exterminados.
Bem, gostaria de escrever um pouco mais, mas por hora achei melhor reproduzir a carta aberta enviada pelo Fórum pela Vida, Contra o Extermínio!
Segue a carta

PELA VIDA, CONTRA O EXTERMÍNIO
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO


No dia de hoje completa-se um ano da Chacina no Complexo do Alemão, onde 19 pessoas foram mortas com 78 tiros, sendo que 32 deles disparados pelas costas. A mega-operação que envolveu 1200 agentes também teve como resultado a apreensão de 14 armas, além de nove feridos, incluindo crianças. Os laudos do Instituto Médico Legal demonstram que as pessoas assassinadas foram atingidas em regiões vitais, o que comprova que, em vários casos, não houve a intenção de imobilizá-las, mas sim de executá-las.

Com a realização sistemática de mega-operações policiais, os governos do Rio de Janeiro e o governo Federal estão perpetuando e até mesmo ampliando um projeto de militarização do modelo de segurança pública. Atualmente, não há no Rio de Janeiro uma política de segurança orientada para a proteção da vida. O que existe é uma política de extermínio! Em maio de 2007, logo após uma operação policial na Vila Cruzeiro que deixou 16 mortos e mais de 50 pessoas feridas por balas perdidas, o atual Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, declarou: “não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos” e que “o remédio para trazer a paz, muitas vezes, passa por alguma ação que traz sangue”. O então Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, em referência ao modelo de política criminal adotado, declarou que “os mortos e os feridos geram um desconforto, mas não tem outra maneira”. Mais recentemente, em 15 abril de 2008, após uma operação policial com 180 agentes, que deixou 09 pessoas mortas e 07 feridas, o Chefe do 1° Comando de Área da Capital do Rio de Janeiro, coronel da Polícia Militar Marcus Jardim, declarou: “A PM é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, [inseticida] SBP? Tem o SBPM. Não fica mosquito nenhum em pé. A PM é o melhor inseticida social”.

O governo atual é responsável por um aumento vertiginoso do número de “autos de resistência” – civis mortos pela policia. Em 2007 foram computados 1330 registros. Nos primeiros três meses de 2008, foram registrados 358, o que representa um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2007. Se essa média se mantiver, o Estado do Rio de Janeiro registrará 1431 autos de resistência em 2008. Esse modelo de segurança pública, inscrito num processo social de criminalização da pobreza, não torna o Rio mais seguro. O custo humano dessa política de governo não se justifica! Hoje temos a polícia que mais mata e mais morre no mundo, num quadro trágico que já alcançou índices recordes, jamais vistos anteriormente.

A partir de uma análise da violência policial do Estado brasileiro, vemos que o valor da vida e da dignidade humana de uma determinada parcela dos cidadãos (que podem ser recortados por sua etnia, faixa etária, classe social e geografia urbana ou rural) está se tornando cada vez mais "descartável" pelas estratégias gerais das políticas governamentais do país. A banalização da morte não permite que se veja que cada um desses jovens assassinados, cujos corpos são mostrados “sem rosto”, tinha nome, sobrenome, família, escola, emprego... vida! Essa onda punitiva está acabando com o futuro do país! Infeliz é a sociedade que não se revolta vendo sua juventude ser exterminada.

Por isso nos juntamos aqui hoje: para lembrar o caso do Alemão, mas também Acari, Borel, Caju, Coréia, Lins, Baixada, Candelária, Vigário Geral..... e o recente caso da Providência.
Acusamos os governos de genocídio, racismo, tortura e fascismo, e exigimos: parem de matar os nossos jovens! Queremos justiça e uma profunda mudança na atual política de segurança pública.
Declaramos que ninguém calará nossa voz, nossa dor e nossa luta.

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